quarta-feira, 21 de maio de 2008

Odisseia



O tempo todo do mundo’ – pensei eu.

O tempo todo do mundo não bastava para que eu caminhasse o suficiente em busca de um lugar que nem sei. Sentia que o tempo era a linha ténue que me separava da verdade e se por um momento tudo deixasse de ser aquilo para ser outra coisa? A cada minuto que passava o vento movia as folhas, dispunha tudo de forma diferente.


Foi então que vi uma pedra e apercebi-me de que não estaria só… Acompanhei-me da minha ausência até lá e sentei-me. Porquê? Não sei… Talvez porque da mesma forma que me sentei naquela pedra fria e cinzenta tu saberias que eu ali estaria aguardando impaciente a tua chegada.

Um momento de silêncio e o vento ressoou mais forte.

‘Afinal o vento trouxe-te até mim…’





segunda-feira, 19 de maio de 2008

Loures, 29 Março 2007

- Sim, é como se fosse um barco. Dizias tu…

“A vida é como um barco que flutua na calma dás águas, após o tormento da tempestade. A vida como um barco…”

Por momentos fiquei preso aquela frase e tentei, de alguma forma, imaginar a vida como sendo um barco em alto mar. Fico francamente assustado com tal fragilidade. Toda aquela colecção de pedaços de madeira frágil, balançando-se de um lado para o outro, naquela imensidão que as engole e as sustem.

Inevitavelmente o tempo vai-se encarregando de as desfazer, apodrecendo-as na força da sua existência longa e atribulada e mais uma onda que as sacode e as rochas, esses lendários adamastores, que as seguem de olhar firme e posição segura, atentas ao mínimo balanço para suster em toda a sua passividade o estrondo dos destroços.

A vida é como um barco, pensei… A qualquer momento, um tanto comum ou talvez menos previsível, vê-se sem rumo, sem estrelas no céu ou o sois que o guie. Este, Oeste? Norte ou Sul? Preenchido pelo significado da palavra perdido, tenta a todo o custo não ser o antónimo da sobrevivência e com todas as forças luta por se achar em algum lugar seguro. É então que chega o desejo bruto, naquele momento único, sublime, perigoso, mágico em que as forças se opõem numa tentativa desesperada de marcar a diferença. E as mademoiselles carregadas de pranto e dor, lançadas sobre a ignorância do paradeiro dos seus maridos. E os maridos delas incógnitos do fado que o barco da vida ditará. E os pequenos que olham o horizonte, na sua inocência infantil e embora não sabendo o significado daquela alegoria, permanecem cúmplices do silêncio de suas progenitoras de olhares fixos no horizonte, para que ao mínimo traço possam exclamar – São eles!

É um barco que se afasta ao sabor do vento, que já não olha mais para trás. A cada nó vai esquecendo o que lhe antecedera, o que lhe dera forma… Das mãos robustas e calejadas, da experiência em punho… Aquele que se afasta e se esquece do porto de abrigo, sem temer uma viagem só de ida. Este é o exuberante Barco da Vida…